Sobre o Cultura Sem Fronteiras

A Cultura compreende os comportamentos, tradições e conhecimentos de um grupo social, incluindo a gastronomia, o idioma, as religiões, a música, as vestimentas e as artes em geral. Ela pode ser entendida como uma rede de compartilhamento de valores de uma sociedade que criam uma identidade cultural. A Cultura é dinâmica e está sempre em transformação, graças a troca entre diferentes povos.

O “CULTURA SEM FRONTEIRAS” valoriza a bagagem cultural trazida pelos  Refugiados e Migrantes que vivem no Brasil. É uma oportunidade de refletirmos sobre o aspecto multicultural trazido por milhares de homens, mulheres e crianças, que foram forçados a deixarem suas casas, em busca de um local que possam chamar de lar.

Nesse sentido, é importante conhecer as instituições que trabalham em prol da proteção desses grupos aqui no Brasil e pensarmos sobre a nossa responsabilidade, diante de pessoas que são “Gente como a gente”.

O Projeto “CULTURA SEM FRONTEIRAS tem seu alicerce em 3 pilares principais:

  • Informação
  • Empatia
  • Empoderamento

 

Este projeto convida o público a embarcar em uma viagem cultural com informações valiosas que estimulam a empatia – colocar-se no lugar do outro – e prepara o leitor para empoderar, acolher e agir em prol da causa: seja como voluntário, doador ou multiplicador, o mais importante é partir para a ação e apoiar a quem precisa, e precisa muito… sobreviver para recomeçar em uma terra nova, com uma língua nova, um novo ofício, ou seja, são muitos desafios a serem vencidos, regados de muitas saudades, amizades e amores que ficaram para trás na sua terra natal…

O projeto é multiplataforma, como um Storytelling, utilizando vários recursos interativos para apresentar o tema, entre eles: plataforma digital, vídeos, talkshows, podcasts, ações de capacitação, eventos, campanhas de doação e o livro “Refugiados e Migrantes – Gente como a gente”, que está sendo apresentado na versão digital como forma de democratizar o acesso.

Tanto o presente livro como o acesso à todas as atividades e produtos culturais do projeto será sempre gratuito e democrático!

Idealizadora e Curadora​

Ana Brites

Em todo o mundo, 82 milhões de pessoas foram forçadas a deixar tudo para trás para escapar de guerras, conflitos, perseguições e violações dos direitos humanos…

O Brasil é signatário de diversos tratados internacionais que preveem uma série de direitos a essas pessoas, que foram obrigadas a migrar em busca de sobrevivência.

Para ressaltar a importância do acolhimento, apresentar a contribuição cultural que as pessoas em situação de refúgio e os migrantes trazem para o país que os acolhem e para convocar a sociedade a conhecer mais sobre a causa, idealizei o presente projeto e com o apoio de diversos parceiros, pudemos torná-lo realidade.

É indescritível o que estou sentindo nesse momento de lançar a segunda temporada do projeto “CULTURA SEM FRONTEIRAS”.

No mercado de produção de eventos e projetos sócio-culturais há mais de 30 anos, sempre estive ciente da minha responsabilidade para com a sociedade, do meu compromisso em entregar conteúdos não só de entretenimento, mas que contribuam com a melhoria da qualidade de vida das pessoas, transformando sua visão de mundo.

Em 2019, fui sensibilizada com a novela “Órfãos da terra” que trouxe a reflexão sobre a causa do Refúgio. Aproveito a oportunidade para agradecer e parabenizar às incríveis autoras Thelma Guedes e a Duca Rachid pelo belíssimo legado deixado à humanidade.

Ao ser inspirada pela novela, comecei a me envolver com a causa e a transformei em missão de vida.

Iniciei as primeiras leituras, pesquisas, contato com refugiados, instituições que acolhem, mobilizei parceiros, estudei o Ecossistema voltado para o Refúgio e Migração no Brasil. Percebi que muito já estava sendo feito, muitas vezes de forma ainda silenciosa e com pouca divulgação por diversas instituições corajosas e criativas que se empenhavam para dar conta de atender a tantos seres humanos que chegavam em busca de paz, oportunidade, de trabalho, de dignidade…

Olhando para o futuro, em tempos que já se ouve falar em “metaverso”, quando a interação será mais virtual, as relações humanas, os sentimentos e histórias reais precisam ser trazidos à tona, valorizados e se abrir espaço para as causas humanitárias, entre elas a causa do Refúgio que está sendo considerada uma das piores crises humanitárias de todos os tempos.

Qualquer um de nós pode passar por uma dificuldade e tragédia em nossas vidas e países – desastres naturais como o terremoto do Haiti em 2010, que segundo dados da Polícia Federal, aproximadamente 93 mil haitianos entraram em território brasileiro entre 2010 e 2017.

Crises políticas e econômicas como na Venezuela e na República Democrática do Congo, ou mesmo a Guerra da Síria que em pleno século XXI, infelizmente, já ultrapassou 10 anos de uma guerra insana e segundo informações de ativistas de direitos humanos dentro e fora da Síria, o número de mortos no conflito passa das 500 mil pessoas.

O desespero de pessoas se agarrando a aviões superlotados e despencando nos céus do Afeganistão chocaram o mundo e logo na sequência o presidente da Rússia resolve atacar covardemente a Ucrânia. Surreal, mas é o mundo que vivemos!

Na história, casos de epidemias, guerras e desastres naturais vem assombrando a humanidade como é o caso do recente desafio da pandemia mundial do Covid-19.

Com certeza os grupos sociais que se encontram em situação de vulnerabilidade social tiveram as suas condições mais agravadas.

A antiga frase ”A união faz a força”, nunca foi tão necessária em tempos de enfrentamento de crises humanitárias e climáticas.

O respeito ao ser humano e ao planeta nunca foi tão urgente.
O egoísmo precisa dar espaço a empatia…

O CULTURA SEM FRONTEIRAS foi criado para ser um manifesto humanitário que convoca a todos independente de raça, idade, nacionalidade, a se envolverem com a causa do refúgio e da migração com um olhar compassivo e ativo para geral um afetuoso acolhimento a nossos irmãs e irmãos que chegam a nosso país com a esperança de recomeçar na maioria das vezes do zero.

“TODOS SOMOS MIGRANTES”

Independente das crenças que tenhamos, é importante olhar para os migrantes e refugiados como seres humanos, que jamais devem ser desprezados!

A Agenda 2030 da ONU e os desafiadores ODS – Objetivos de desenvolvimento Sustentáveis preconizam:

NÃO DEIXAR NINGUÉM PARA TRÁS!

O CULTURA SEM FRONTEIRAS tem a intenção de ser um hub cooperativo, um espaço para diálogo e conexões que contribuam, dando visibilidade e voz a todos os Stakeholders (integrantes) do Ecossistema das causas humanitárias.

Penso que hoje enxergo a realidade do refúgio de outra forma, não vejo mais os números ou estatísticas e sim dezenas, centenas, milhares de homens, mulheres e crianças que têm suas vidas colocadas em risco, devido as extremas violações dos direitos humanos e buscam forças, quase que as últimas, para lutarem por elas.

“CULTURA SEM FRONTEIRAS” vem para lhe fazer esse convite, que você, assim como eu e tantas outras pessoas que tive contato ao longo dessa jornada, abra os olhos e o seu coração.

Desejo profundamente que você comece essa viagem como espectador, mas que a termine como um agente transformador, contribuindo da forma que escolher com o Ecossistema do Refúgio e Migração no Brasil.

Embaixadora do Projeto

Telma Guedes 

Autora de Novelas

Empatia: substantivo feminino; 1 PSICOL Habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa. 2 PSICOL Compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem.
(Dicionário Michaelis).”

Há inúmeras maneiras de estar no mundo, mas me parece que a escolha entre duas delas define quem somos. Numa, a opção é por fechar os olhos para os problemas alheios, acreditando que o que não nos afeta diretamente não nos diz respeito. Na outra, há a compreensão de que cada um de nós é parte do todo e que, portanto, tudo o que atinge o outro sempre nos diz respeito e é também nossa responsabilidade. De acordo com essa segunda visão de mundo – da qual partilho – quando viramos as costas para a vida alheia, estamos desprezando o valor da nossa própria vida.

Muitas vezes, porém, mesmo elegendo a via da empatia, ficamos cegos para realidades dolorosas e urgentes, que estão bem diante de nós. E é preciso que se coloque luz sobre esses temas, para que sejam vistos com clareza por todos nós.

Há muitos e muitos anos, a grave questão do Refúgio atormenta a Humanidade. Mas durante um longo tempo, ela pareceu absolutamente distante de nós brasileiros. Mesmo já convivendo com pessoas em situação de refúgio, não nos dávamos conta de sua presença. Nossa sociedade as tornava invisíveis.

Em meados dos anos 2000 – quando a guerra civil na Síria arrasou o país e promoveu uma fuga em massa de sua população, buscando refúgio em outros países – os noticiários começaram a dar destaque para esse terrível drama. A partir de 2015, vimos a crise Síria se agravar. E nosso “pacato” cotidiano passou a ser invadido pelas imagens assustadoras das travessias humanas por terras devastadas, dos trágicos naufrágios, das tentativas desesperadas para a entrada em países cujas fronteiras se fechavam, e que tantas vezes resultavam na morte de inocentes.

Impactadas, eu e minha parceira na autoria de telenovelas Duca Rachid percebemos que, apesar de tudo, muitos brasileiros continuavam achando que não tínhamos nada a ver com aquilo. Quando se falava na importância de nosso país acolher pessoas em situação de refúgio, uma onda de pensamento começava a se propagar, segundo a qual: “Já temos problemas demais, para ainda nos preocupar com o problema dos outros”; “Esses refugiados vão vir pra tirar nossos empregos”. Sem falar na confusão que se fazia entre o termo refugiado e “fugitivo”. E ouvíamos, vez ou outra, sentenças do tipo: “Se estão fugindo do país deles, boa coisa não fizeram lá”.

Sem ter a pretensão de mudar a opinião ou ensinar nada a ninguém, tivemos a ideia de, a partir de uma narrativa ficcional – a mais fiel possível à realidade – mostrar a trajetória e o ponto de vista de uma família síria que precisava abandonar sua casa, seu país, sua comida, seus hábitos, sua língua, seus amores, e que vinham para o nosso país em busca de uma chance de viver em paz. 

Foi assim que nasceu a novela “Órfãos da Terra”, que Duca e eu escrevemos, Gustavo Fernandez dirigiu e foi ao ar pela Globo em 2019. Tendo como base uma pesquisa extensa e aprofundada, contando com o apoio da Acnur e de outras importantes instituições que amparam refugiados no Brasil, ampliamos a reflexão, inserindo histórias de refugiados e migrantes também de outras nacionalidades que encontram no Brasil um lugar de acolhimento.

Com alegria, constatamos que, pela via do amor e da empatia, a novela conseguiu dialogar com um público amplo e diverso. A repercussão e boa recepção do nosso trabalho demonstrou que a mensagem chegou ao seu destinatário, fazendo com que, ao terem a oportunidade de conhecer mais de perto essa realidade, muitos espectadores despertaram para a importância do acolhimento, tanto para quem é acolhido como para quem acolhe.

Apesar do seu êxito e ainda que a novela tenha conseguido chegar num contingente muito grande de pessoas, sabemos que as iniciativas pela conscientização sobre o refúgio precisam ser constantes, contínuas, incansáveis e as mais abrangentes possível, para de fato serem efetivas.

Como parte fundamental desse projeto, o livro “Refugiados e Migrantes – Gente como a gente”, mais do que um simples livro, é uma celebração à vida. 

Ao tomar o leitor pela mão numa viagem afetuosa, ele constrói, a cada página, a cada imagem, a cada palavra, uma aproximação – reveladora e surpreendente – com essas mulheres, homens e crianças que vieram e continuam a vir para nosso país, procurando a possibilidade de reconstrução de suas vidas – muitos deles apenas com a roupa do corpo.

Apesar de virem de culturas tão diversas, temos a oportunidade de ver e sentir como essas pessoas se parecem conosco. E, apesar de terem passado por uma experiência tão terrível, não perderam, e não perderão nunca, suas referências. Por intermédio do livro, conhecemos suas receitas, suas memórias pessoais, narrativas de sua comunidade, seus desejos e sonhos, que são tão humanos…

E podemos constatar que trazem no coração o sonho comum a todos nós, viventes do planeta Terra, aquele sonho que mais nos aproxima, pois é o que nos constitui como seres humanos: o sonho do direito à vida e à felicidade.

Ao mesmo tempo em que dá voz às pessoas que estão na condição de refugiadas no Brasil, o livro abre um importante espaço para que os leitores se informem com mais profundidade sobre as instituições sérias, avalizadas pela Acnur, que fazem o trabalho de acolhimento, mas que precisam também serem acolhidas e apoiadas por toda a nossa sociedade.

O projeto Cultura sem Fronteiras – assim como o livro que faz parte do projeto – é, portanto, um convite a partilharmos de uma corrente de afeto e de valorização de toda vida na Terra, reconhecendo que estamos todos juntos nessa viagem planetária.

Thelma Guedes, dezembro de 2021.